segunda-feira, 30 de março de 2009

Orides Fontela

Orides (1940-1998)

Pra pensar minha querida Orides:


Vemos por espelho
e enigma

(mas haverá outra forma
de ver?)

O espelho dissolve
o tempo

o espelho aprofunda
o enigma

o espelho devora
a face.



Em sua poesia, pode se dizer que há um tipo de lirismo essencial. As palavras parecem cristalinas na página, são palpáveis, concretas, depuradas na tradição lírica e, ao mesmo tempo, estão prontas para o vôo. Ficam entre a imobilidade e o movimento. A poeta cria, desta forma, um universo de reflexão que faz com que o leitor, diante do poema, diante de suas imagens, balance entre o apaziguamento e a exasperação.
As imagens apontam, por um lado, para lugar aparentemente calmo, mas quanto mais se adentra no seu sistema poético mais se percebe a turbulência das águas, a dor que está embutida em cada palavra cuidadosamente escolhida. Como notou Marilena Chauí, no préfacio que fez ao livro Teia , sua poesia "não é metafísica - como querem alguns. Não é feminismo - como imaginam outros. Não é filosofia nem tomada de partido. É palavra pensante e pensamento falante. É poesia. Não basta?"
Orides Fontela, que morreu pobre num sanatório de Campos de Jordão, deixou uma obra que vem sendo cada vez mais estudada, decifrada e traduzida. Seus vários pássaros, com toda leveza e peso, continuam como símbolos de sua vitalidade e tensão poéticas, atiçando no leitor a "aguda consciência", abrindo leques de interpretação. Orides sempre soube que esta luta entre a poesia e a realidade é dolorosa e inescapável para o poeta, como ela dirá no belo poema "Torres":

"Construir torres abstratas
porém a luta é real. Sobre a luta
nossa visão se constrói. O real

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